segunda-feira, 22 de julho de 2019

Centelha divina.

Sabe o que é mais triste? É que em minha cabeça ecoa uma voz que sempre pergunta: “Quem você acha que é para tanto?”. Essa voz, que se faz de amiga, mas na verdade é uma traidora, insiste em me fazer sentir que sou menos. Afinal, o que uma mulher de 27 anos, que ainda sabe pouco da vida, teria de necessário, de significante para dizer ao mundo?

São absurdos como esse que sou obrigada a ouvir. E o mais assustador é que calar essa voz parece ser impossível, a depender da força e energia que emano quando a ouço. De certo, tantas outras pessoas também ouvem vozes similares. Elas martelam incertezas, desvalidam potências, bloqueiam o poder de criação que existe dentro, seja a gente quem for, independente de onde viemos ou de onde estamos hoje.

Ouvi, dia desses, uma reflexão bonita de uma terapeuta que, mesmo em um processo de autodesenvolvimento forte e verdadeiro, também “ouve vozes”. Ela disse algo sobre existir uma centelha divina dentro de cada ser humano. Pode parecer pueril, pode parecer até mesmo imaturo, mas essa afirmação ecoou tão forte dentro de mim quanto aquela voz que sempre questiona e duvida. Se eu posso dar ouvidos à voz pessimista, por que então eu não poderia dar uma chance de abraçar uma mensagem doce como essa?

Centelha divina! Que lindo é pensar nisso. Vejo, ao meu redor, exemplares excepcionais do que venha a ser o divino.  Porque existe vida onde quer que eu olhe. No rio que corre há vida.  No sol que nasce e se põe todos os dias há vida.  Na flor que brota “sozinha” num canteiro há vida.  Deve ser isso o que aquela terapeuta chamou de “divino”. E, se existe algo em mim que flui e pede por ser manifestado no mundo, porque não seria mais um exemplar da centelha divina?

Somos viciados em termos o controle de tudo. Viciados em sermos os responsáveis, os criadores, os donos daquilo que vem de dentro. Mas, contrariando essa tendência, assumo: nem tudo aquilo que crio é de minha autoria, pura e simplesmente. Seria muita vaidade dizer que aquilo que manifesto é só meu. Não é.

Existe muito de rio fluindo, de sol nascendo e se pondo, de flor desabrochando nisso tudo.

Centelha divina...

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Ouvidos desatentos.

Ando tendo alguns impasses com conversas. Ando, também, muito exigente com elas e tantas outras coisas (que, agora, não vêm ao caso). 

Não tenho tido muitas experiências presenciais. Minha atual rotina de trabalho muito me impacta quanto ao contato físico com os outros. Ando mais virtual que nunca. E, sabe... Eu não estou reclamando. Me sobra, então, bastante energia para prestar atenção nas poucas conversas não-virtuais que tenho em dias livres. 

E o que ocorre (e corrói) é, mais ou menos, assim... 

Lá estou eu, conversa vem, conversa vem (não vai, nesse caso), me perguntando: "Essa pessoa quer mesmo me ouvir?". Algo me diz - observando trejeitos agitados, fala acelerada, pouca calma, aguda entonação - que não. A sensação que sempre acaba me invadindo nessas tais conversas é a de que a muita gente só precisa falar. Falam. Falam. Falam. E vão embora. 

Às vezes, precisam. Afinal, desabafar é mesmo preciso e cura. E, francamente, se assim for, até gosto. Sinal de que esse alguém me considera confiável, digna de ouvir seus sentimentos. E eu posso ouvir. Gosto, mesmo, do desabafo. Mas, se não for, uma conversa não deveria ser "troca"?

O problema só surge quando ela não é uma troca. Torna-se um monólogo. Pergunto, em silêncio: "Ei, você está mesmo me vendo aqui?". Fico procurando pelos olhos do outro, sem sucesso. Toda aquela fala infindável seria apenas o ego tentando provar algo? Sim, procuram provar algo. Geralmente, querem provar que estão... Certos. 

E, assim, eu fico cansada. Exausta, em questão de minutos. A conversa, em essência, tem duas ou mais vozes, diversas opiniões e, obviamente, muitos ouvidos interessados. Deveras, me cansam as pessoas que não querem usar os ouvidos. Para essas, me dá vontade de não mais ceder os meus.