sábado, 9 de março de 2019

Criança sabe ser amigo.

Dos pormenores da vida de adulto, lidar com a amizade é contínua aprendizagem. É que, quando criança, a força da cria[ção]tividade faz com que as amizades nasçam. O solo é fértil e imaculado. Na pureza da ausência de responsabilidades; na espontaneidade do aqui-agora; no prazer inenarrável do "quer brincar comigo?", nasce o amigo. 

Amigo-criança não se preocupa com o que o outro estará pensando dele. Tampouco se pergunta "com quem ele brincará amanhã, senão comigo?". Não há autojulgamento no universo amigável de uma criança. E aí, tudo flui. Até que a gente cresce.

Cresce, junto aos medos sutis que emaranham, dia após dia, a complexidade do que é ser adulto. Então, o amigo-criança dá lugar a um ser disforme, que nem rosto tem; que quer ser simpático, mas quer ser aceito também. Recua. Mais "pensa" a alegria do que, deveras, sente. O adulto, quando se deixa levar, inconsciente, cria um véu de insegurança que envolve suas relações. 

É preciso buscar fundo. É preciso ser vulnerável ao incerto do infantil. Porque o amigo-criança, creio eu, ainda estará lá, se procurar por ele. Sentadinho, quietinho, lá dentro de si. Esperando por alguém que pergunte, sem medo: "quer brincar comigo?". E, então, ele irá. Reflorescido.

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