Choro, não sei se por pesar ou pena. E pode ser que ambos tenham formado trança com a lembrança do que foi bom no passado. E pensar no que foi bom no passado, faz meus braços ficarem fracos e me dá vontade de me deitar encarando o teto. Só ficar ali, quieta, experimentando a sensação. Faz tempo que eu me despedi da fantasia. A fantasia do ideal que criei para o amor que fomos. Finalmente, te olho sem véu. E ainda assim te amo. Amo a forma como você foi pessoa comigo e como pude ser pessoa contigo. Essa é a marca que tornou o amor contínuo: ser gente. Ser a gente. Quando você veio, trouxe nas mãos um carinho que eu sempre soube que merecia. Porque é um carinho que dou. Essa gangorra de dar e receber carinho me fez ser criança de novo. Chorar de soluçar quando doía. Descansar depois da brincadeira. Criar. Mostrar meus desenhos, meus poemas e ouvir "que lindo, amor". Foi quase paternal. E embora tenhamos nos perdido justamente aí, foi exatamente como tinha que ser. Me nutriu. Me trouxe chão firme para que eu pudesse aprender a andar de novo, como uma criança. Um amor-chão. Fomos tão reais, não fomos? Mesmo as queixas, mesmo os desencontros, mesmo as tristezas. Tudo foi verdade. Tudo verdade.
Passei pelos seus braços seguros e, hoje, eu vôo porque tive chão. Tive chão com você. E sigo caminho daqui. Olho para o feio e o bonito que encontramos na água de cachoeira, no sal da praia e da lágrima, na brincadeira de cara de picolé e nos tufos de pelos de gato. Os papéis que assinei hoje não decretam um fim. Te convido a interpretar como um agradecimento por tudo o que nos ensinamos. A assinatura diz: aprendi, amei e sigo amando. Um amor que deseja que o outro seja imensamente feliz, ainda que não seja ao lado um do outro. Obrigada por ter ficado por tanto tempo e com tanta entrega. Me despeço com imenso respeito e todo carinho do mundo. Amor-chão. Daqui dessa bifurcação, seguimos separados. Porém, ao que depender de mim, jamais esquecidos.
Com amor, Laysla.