Ela o chamou para entrar, ainda
que dividida entre o pedido do corpo e a preocupação da mente. A casa vivia uma
bagunça desde dezembro. Mas não era hora de se preocupar. Esperou, sem saber,
por essa visita há tanto tempo que algumas roupas no chão e xícaras sujas de
café não impediriam que ele, finalmente, entrasse.
- Pode se achegar. - Ela disse, sorrindo.
Recolheu as roupas do chão, aquelas
que conseguiu ver, com os olhos apressados. Pôs as xícaras na pia e, mais do
que depressa, juntou os papeis espalhados sobre a mesa. Eram os seus últimos
rascunhos de textos, ainda esperando por qualquer significado. De amor, quem
sabe.
- Esses são os seus escritos? –
ele perguntou.
- Tentativas frustradas, eu
diria. – ela respondeu.
Ele pediu, com os olhos,
permissão para lê-los e ali se demorou. Não piscava enquanto lia. Enquanto a
lia. Foi quando ela reparou como num frame, o quanto ele cabia bem naquele
espaço. Naquela cadeira de segunda mão. Naquela mesa desgastada pelo tempo em
que ela, todos os dias, se debruçava e entregava um pouco de si, à caneta. Mal
sabe ele que, se assim quisesse, ela se entregaria novamente. Nua e inteira, a
ele, nas próximas horas. Ou nos próximos anos.
[Texto inspirado na canção "Pode Se Achegar".]
[Texto inspirado na canção "Pode Se Achegar".]
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