sábado, 13 de março de 2021

Falta.

Acordei há horas e ainda não tenho nenhuma certeza com a qual contar. Me atenho aos gatos que miam, pedindo por ração fresca; à necessidade de vestir pouca roupa porque faz um calor escaldante; à xícara de café que eu não deveria ter tomado, tanto porque faz calor, quanto porque só aumenta a ansiedade. Vou me apegando às pequenezas do dia, só para ver se - por um minuto que seja - eu me esqueço do que falta. Os encontros, meus pais, meu irmão. Minhas queridas amigas que não vejo... Há quanto tempo não as vejo? As viagens descomprometidas para Minas Gerais e Paraty. Ah, que saudade de cachoeira!

Ligo a TV a fim de que algum ruído me preencha e o que tenho, em contrapartida, são vozes infindáveis que vão me abrindo como mãos que rasgam à força um tecido frágil. Vozes dizendo que a vida escoa. Vozes dizendo que falta. Falta gente. Falta mais gente a cada dia. Desligo a TV e tento me enfurnar num livro. Me encher, nem que seja de palavra lida. E é uma pena que a cabeça não tenha, nessas horas aflitas, o mesmo plano que minhas mãos. O mar está próximo e, pasme, me parece que não o vejo há meses. Onde será que tenho orbitado enquanto a vida lá fora esfarela e tento preencher os dias e respiros com algo de concreto? Onde?!

Tenho certeza de tão poucas coisas... Uma delas é essa: se algo existe é a falta. Me resta, então, deixar a falta aparecer e tentar dormir em mais um noite quente, oca e sem respostas.

Laysla Machado.

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